segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Brasil



Aqui de NYC, nunca achei o Brasil tão bonito como agora!

sábado, 15 de dezembro de 2007

Paredes




Ontem na cama, eu não conseguia dormir. Percebi que eu odiava meu quarto e suas paredes. Na verdade eu percebi que eu odiava as paredes de todos os quartos e queria que elas não existissem, porque assim a minha casa seria como um cômodo só. Uma salona que acomodaria toda minha família e que então estariamos juntos em todos os momentos. Estariamos submetidos a obrigação de nos vermos todos os dias para tentar forçar uma unidade familiar. Não haveria salas, quartos, cozinha, escritório que nos separesse. Não teriamos cada um o seu quarto, a sua bolha e não nos alienariamos nela. Não seriamos vizinhos dentro de uma mesma casa. Ali só haveria a convivência: brigariamos pelo controle da TV, almoçariamos juntinhos na mesa da cozinha, disputariamos o banheiro, bagunçariamos as roupas, estressariamos mais a empregada.
Mas ao mesmo tempo que eu me empolgava com essas minhas fantasias de como eu queria que fosse o mundo, o meu lado realista me entristecia. Não adiantava eu ficar me iludindo com meus sonhos se na vida real a minha família ia continuar fragmentada. E como eu sempre busco estar bem, aproveitei esse breve momento de lucidez e coragem para assumir que, de fato, eu tenho um problema na família. O foco então deixou de ser as paredes do meu quarto e passou a ser eu, as minhas paredes - o que eu posso fazer pra mudar nossa relação e pra termos mais contato. Mas não pode ser qualquer contato, pois não adianta nada passarmos todo tempo juntos, como propunha meu sonho, só para mascarar uma trinca familiar. Esse tipo de convivência só tornaria as relações superficiais. A questão é ir fundo no nosso contato e ir fundo pode ser muito simples: é ver meu irmão ouvindo musica no quarto e entrar pra bater altos papos sobre como ele está; é ter algum problema e ir desabafar com meus pais enquanto eles lêem revista; é construir uma rotina que favoreça nosso contato sem que precisemos ceder compromissos ou perder nossa individualidade; é conhece-los. E conhece-los é me conhecer também. Estar bem com a minha família é estar bem comigo mesmo. Estar bem com eles é estar bem com todo o resto. Ter uma verdadeira relação familiar é ter uma verdadeira relação com meus amigos, com meu namorado, com meu trabalho, comigo mesmo. Porque família é a base de tudo, é a raiz que dá os galhos e frutos da vida. Então que eu cultive essa árvore para poder viver bem.
E conforme eu ia refletindo e me dando conta dessas minhas questões, fui ficando com sono. Consegui dormir.
Hoje eu acordo e percebo que amo meu quarto e suas paredes. Quero que elas permaneçam ali, brancas e intactas.