quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Que tédio...

O tédio me matou. Porque ele é como a metástase: é um câncer que toma conta de todo o resto. Ele chega de repente, do nada, sem sintomas, e quando percebemos já estamos contaminados e morremos.
E foi assim que aconteceu comigo. De repente eu me dei conta de que eu era entediado e tudo na minha vida era entediante. Esse computador, esse quarto, essas paredes, esses móveis, essa sala, essa casa, meu carro, as ruas, as pessoas, os lugares, São Paulo. O pior é que eu tinha tudo para não achar isso. Meus pais sempre me deram o que eu quis: os melhores brinquedos, as melhores escolas, as melhores viagens, muito amor e muito carinho. Então, eu tinha tudo pra achar a minha vida a mais legal de todas. Mas não. Minha vida era chata. Achatada. Banal. Ordinária. Era como se eu estivesse doente porque não sentia prazer em nada e em ninguém. Eu tinha tudo e não tinha mais o que fazer. Por isso, em busca de um remédio pra suposta doença, eu fugia pra inutilidade dos vícios comuns que me pareciam muito úteis: horas na internet, muita punhetagem, engordei uns quilos, dormia demais, conta telefônica alta, festas todo fds, sabia as falas de "Friends" de cor e todos esses tipos de drogas que me eram muito divertidas sim, mas que no fundo eu sabia que eram desculpas pra enganar a minha vida sem graça.
Então, pela ineficiência dessas drogas, eu resolvi procurar soluções mais eficazes. Arrisquei tentar encontrar um sentido na minha vida naquilo que eu sempre considerei serem as coisas mais valiosas pra mim, mas que no final até elas foram vítimas assassinadas pelo tédio: tocar piano não tinha mais o prazer da liberdade de criação, mas sim o compromisso de ser um desentediante; entrar no palco para atuar e cantar não tinha mais o prazer do aprendizado artístico, mas sim o compromisso de ser um desentediante; sair com amigos não tinha mais o prazer de ser uma troca de experiências e intimidades, mas sim o compromisso de ser um desentediante. Dai todas as minhas relações materiais e pessoais se tornaram fracas. Todas eram superficiais porque em nenhuma havia uma total entrega verdadeira de corpo e alma. Era como se eu fosse um zumbi - um morto que anda, fala, mas é gelado e insensível. E o tédio faz isso: mata. Assim como o câncer. Porque nós só estamos vivos quando produzimos, quando criamos. Quando estamos na inércia, sem fazer nada, entediados, estamos mortos.
Mas apesar do câncer ser uma doença incurável, a gente sempre tem esperança de que ainda vão encontrar sua cura. E eu também tenho muita esperança de que ainda vou encontrar a minha cura. Não acho que tentar lutar contra o tédio seja a solução porque acho que ele sempre vai estar aqui do meu lado me assombrando. Mas o que quero é encontrar o equilíbrio entre conviver com ele e ter força de vontade. Quero que ser entediado seja uma característica minha e não um defeito. Quero que, mesmo com todo o paradoxo, viver a minha vida entediante valha a pena. Dai pelo menos acho que vou me sentir um pouco mais vivo nesse mundo...